OURO: Guilherme Costa, no Peru e Tetsuo Okamoto, em 1951, na Argentina
Foram necessários 68 anos para o Brasil repetir um feito histórico na natação em Jogos Panamericanos. Em 1951, o mariliense Tetsuo Okamoto, aos 19 anos de idade, conquistou medalha de ouro nos 1.500 m livres, na primeira edição dos Jogos, em Buenos Aires, na Argentina.
Na madrugada deste domingo (11), o brasileiro Guilherme Costa, o Cachorrão, de 20 anos, natural de Itaguaí (RJ), repetiu o feito em Lima, no Peru. Ele venceu com a marca de 15min09s93.
RECUSOU CARRO O KM DE PRESENTE
Tetsuo Okamoto oi o primeiro atleta a ganhar uma medalha olímpica na história da natação brasileira, uma medalha de bronze, conquistada nos Jogos Olímpicos de Verão de 1952 em Helsinque, nos 1500 metros livre.[2] No ano anterior já havia sido o primeiro campeão pan-americano da natação, com a medalha de ouro nos 400 metros livre e nos 1500 metros livre, na primeira edição dos Jogos Pan-Americanos, em Buenos Aires.[3]
Trajetória esportiva
Okamoto procurou o esporte porque sofria de asma. Suas primeiras braçadas foram no Yara Clube, de Marília. Em 1950, depois de competir nos Estados Unidos com os atletas norte-americanos e japoneses, descobriu que precisava mudar o método de treinamento. Na época, nadava 1500 metros por dia, e foi orientado pelos estrangeiros a treinar muito mais. Passou a nadar 10 mil metros, e a mudança deu certo.
Em janeiro de 1951, quebrou o recorde sul-americano pela primeira vez. Ele nadou os 1500 metros livre em 19m24s3, baixando em 40 segundos o recorde brasileiro e em 13 segundos o recorde sul-americano.
Participou dos Jogos Pan-Americanos inaugurais, os Jogos Pan-Americanos de 1951, em Buenos Aires, onde ganhou duas medalhas de ouro nos 400 metros livre e nos 1500 metros livre, e uma medalha de prata nos 4x200 metros livre; nos 1500 metros livre, ele quebrou novamente seu recorde sul-americano.
De volta ao Brasil, foi recebido como herói em Marília, a cidade natal, que decretou feriado municipal. Enquanto desfilava em carro aberto, sua casa era assaltada, mas os ladrões foram presos.
Okamoto chegou a recusar um carro oferecido pela comunidade japonesa como prêmio pelo resultado inédito na Argentina. Como era atleta amador, temia que o presente pudesse ser visto como pagamento e, consequentemente, profissionalização, e lhe tirasse a chance de ir aos Jogos de Helsinque,na Finlândia.
Ainda em Buenos Aires, não houve muita comemoração pelas medalhas no Pan. A Argentina vivia sob ditadura e os atletas ficaram hospedados em acampamento militar. A alimentação era de caserna, não estavam nem aí, contava Okamoto. Mas o jantar em um restaurante de Buenos Aires, com direito a um bife, serviu de festa pelo ouro nos 1500 metros; foi o máximo de luxo concedido ao herói brasileiro.
Três semanas após o Pan, Okamoto quebrou o recorde sul-americano dos 400 metros livre, marcando 4m41s5; o recorde sul-americano desta prova nunca tinha estado nas mãos de um brasileiro.
Nas Olimpíadas de 1952 em Helsinque, Okamoto competiu nos 1500 metros livre, a prova mais difícil da natação, contra o norte-americano James McLane e o havaiano Ford Konno, entre outros; na prova do dia 3 de agosto de 1952, Okamoto chegou em terceiro, recebendo a primeira medalha olímpica do Brasil na natação.
Nessa prova, ele ganhou as eliminatórias com um tempo de 19m05s6, novo recorde sul-americano. Na final, ganhou a medalha de bronze com o novo recorde sul-americano de 18m51s3. Este recorde duraria dez anos.
Suas marcas na natação proporcionaram o convite para frequentar o Agriculture Mechanic College, no Texas, onde estudou geologia e nadou até o final do curso; de volta ao Brasil, dedicou-se à vida profissional e nunca mais competiu.
Morreu aos 75 anos, vítima de insuficiência respiratória e cardíaca. Okamoto também sofria com problemas renais e fazia hemodiálise.